19/09/2024 às 13h22min - Atualizada em 19/09/2024 às 13h22min

Aumento da demanda global por minerais estratégicos favorece o Brasil

País detém 94,1% das reservas de nióbio do mundo e 17,5% de terras raras. Setor lista desafios geopolíticos e tributários

Cibelle Bouças, Valor — Belo Horizonte - oglobo.globo.com
Entre 9 e 12 de setembro, 2.300 congressistas e 320 palestrantes discutiram os cenários para negócios e expansão da mineração no Expominas — Foto: Divulgação

As indústrias de mineração têm à frente um cenário de crescimento global da demanda, impulsionado pela transição energética e preocupações com segurança alimentar. A expansão da produção pelo setor, no entanto, enfrenta alguns desafios de ordem tributária, geopolítica, financeira e socioambiental.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), nas próximas duas décadas, a demanda global deve aumentar 40% para cobre e terras raras, de 60% a 70% para níquel e cobalto, e quase 90% para lítio. Dados do Ministério das Minas e Energia mostram que o Brasil tem potencial de ser um fornecedor relevante de minerais estratégicos para a transição energética, considerando as suas reservas. O país detém, por exemplo, 94,1% das reservas de nióbio do mundo, 17,5% das reservas de terras raras, 16,8% das reservas de níquel, e 21,9% da grafita natural.

Os minerais críticos e estratégicos são decisivos para a transição energética e não haverá saída para a humanidade, em razão do agravamento da emergência climática, sem considerarmos o crescimento da oferta desses minerais — afirma Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram, na edição de 2024 do Expo e Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram), realizada na semana passada em Belo Horizonte.

Maior importador
Ele acrescenta que a mineração é fundamental para a segurança alimentar:

Não há possibilidade de se contar com a produtividade brasileira se não tivermos potássio, se não tivermos fosfato.

Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), afirma que o Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo, o que torna nossa segurança alimentar vulnerável a qualquer conflito internacional.

A guerra entre Rússia e Ucrânia já trouxe incertezas ao mercado — diz Fátima.

Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração, as empresas de fertilizantes já anunciaram US$ 5,58 bilhões em investimentos para o período de 2024 a 2028. O avanço dos projetos, no entanto, esbarra em fatores como demora nos licenciamentos e judicialização de licenças ambientais.

Falta ação coordenada
Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e integrante do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ONU), avalia que o mundo vive uma “poli crise”, com vários questões que têm que avançar simultaneamente para as soluções serem efetivas.

Você não pode falar de insegurança alimentar dissociada da segurança climática, energética, social, dos direitos civis e da poluição. É preciso conectar tudo para oferecer soluções. Mas os sistemas de governança nacional e internacional não dialogam de forma integrada, dificultando a busca por soluções eficazes — afirma Izabella Teixeira.

Theo Yameogo, sócio-lider de mineração e metais da Ernst & Young (EY), observou que países que representam 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo passam por eleições este ano, e as incertezas políticas interferem na demanda global por minerais.

Há uma tensão criada pela guerra da Rússia com a Ucrânia e nas relações entre China e países da OCDE (que reúne os países mais ricos e desenvolvidos) — diz Yameogo.

Para o setor, o risco da a instabilidade política na América Latina é maior para as mineradoras que estão instaladas no Chile e no Peru, por causa também de questões sociais locais.

No Brasil, o risco é considerado médio, que está mais ligado a questões climáticas — acrescenta Barbara Lanhoso de Mattos, Head Global de Mineração da Mood’s.

Rodrigo Augusto Nunes, diretor de operações da Hochschild Mining PLC, considera a insegurança jurídica um desafio para o setor no mundo. No Brasil, na sua visão, a questão tributária é a mais apontada como um entrave.

O Brasil tem um sistema ambiental bastante sólido em comparação com outros países da América Latina, mas a parte tributária ainda é complexa — afirma Nunes.

Pouco financiamento
Jungmann cita como outro desafio a falta de recursos para financiar a indústria. Ele observa que o setor financeiro direciona apenas 0,9% dos R$ 2,1 trilhões que aporta na iniciativa privada para o setor minerário.

A mineração é um dos setores econômicos mais importantes, responde por mais de 30% do saldo da balança comercial. Não me parece equilibrada esta relação — afirma.

O setor de mineração representa cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e, em 2023, faturou R$ 248,2 bilhões, segundo o Ibram.


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